quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Quando a gente tem vontade de devolver o que acabou de ganhar

Não gosto de ser elogiada. 

Não sei muito bem o porquê, mas a maior parte dos elogios que as pessoas direcionam a mim soam falsos, forçados ou simplesmente um grande engano. É só me elogiar que eu murcho, é incrível.

Ainda não entendi que tipo de problema é esse que me impede de acreditar mesmo nos elogios sinceros da maior parte das pessoas. O que sei até aqui é que acreditei quando o cara com quem trabalho disse que fico bem de amarelo, mas não dei bola quando minha amiga disse que eu era bonita. Talvez porque eu tenha me esforçado pra usar a única camisa amarela que tenho e, assim, não ficar igual sempre. Teve trabalho pra ficar visualmente agradável... enquanto minha amiga apenas tirou uma média de todos os meus dias e, movida pelo carinho que me tem, apenas falou. 

Mas há algo que me desgosta ainda mais: elogios de volta. 

Quando tenho vontade de dizer algo elogioso a alguém, eu o digo. Nunca espero nada em troca, mas aí vem ele: o elogio em resposta. 

Não me parece certo nada que venha na mesma hora, do mesmo jeito. Todo "você que é legal!" em resposta ao "cara, como tu é maneira" que eu falo parece afrouxado pela horrenda lei do retorno de gentilezas que diz que tu deve retribuir aquilo que as pessoas te deram de presente da forma mais aproximada possível: não tente superar, não esteja abaixo. Iguale.

Tá errado, poxa. Não há o que observar em duas mesas se os dois pratos servem a mesma comida.

A automaticidade deixa tudo muito mais supérfluo que já é. Vivemos num mundo onde todos aqueles que compartilham o espaço conosco aprenderam, como nós, a capitalizar e medir valores o tempo inteiro (como se já não bastasse termos o cérebro programado para buscar padrões). A gente etiqueta tudo para devolver um tempinho depois na mesma moeda - ou pra mais ou pra menos, a fim de massagear nossos egos ou provocar uma reação exagerada de quem acha que está nos devendo. 

Em resumo, quando alguém faz algo bom o suficiente que nos faz enxergar a bondade, nós anotamos no caderninho para devolver aquilo no mesmo nível. Quando alguém nos causa algum mal, a gente anota para ter como se vingar no futuro. E é esse o mecanismo para a maioria das nossas ações, é esse o mecanismo que faz acontecer o

- tu é linda!
- awn, tu também é!

ou o 

- tua roupa fica bem em você!
- ah, mas a tua roupa também é sensacional!

Me incomoda o bate e volta. Eu não gosto de reação espelhada. O que custa agradecer ou elogiar com um pouco mais de elaboração? Não quero que olhe para mim somente porque olhei para você. 
Elogio automático desmancha toda beleza do momento.

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